23.01.15
Mais de 350 pessoas marcaram presença no Palácio de Congressos do Algarve, em Albufeira, para assistir ao II Encontro de Responsabilidade Social. O evento juntou as principais entidades públicas e privadas a nível nacional com intervenção na área. Ao longo de quatro painéis de debate foram discutidas ideias, apresentados testemunhos e reflexões sobre o caminho a seguir para que se evolua do assistencialismo à sustentabilidade do terceiro setor.
“Este Encontro foi pensado para uma reflexão conjunta sobre o que é a Responsabilidade Social e encontrar formas de tornar o terceiro setor sustentável, trabalhando em parceria com todos os intervenientes, desde o Estado às autarquias, às instituições públicas e às empresas privadas”. Foi com estas palavras que a provedora da Santa Casa da Misericórdia de Albufeira, Patrícia Seromenho, deu início ao II Encontro de Responsabilidade Social, que decorreu no dia 23 de janeiro, no Palácio de Congressos do Algarve, que integra o Salgados Palace Hotel.
O evento, que contou com mais de 350 participantes em representação de diversas entidades nacionais ligadas à atividade social e entidades empresariais, lançou o debate em torno da sustentabilidade da Economia Social e do caminho a percorrer para atingir esse objetivo. “É essencial que as IPSS façam uma boa gestão dos seus fundos e que recorram às empresas privadas para obter financiamento e, consequentemente, sustentabilidade”, alertou o presidente da Câmara Municipal de Albufeira, um dos parceiros do Encontro. Carlos Silva e Sousa lançou o repto para que “procuremos ir mais além do mero assistencialismo e contribuamos ativamente para a sociedade”.
A importância do desenvolvimento de parcerias entre empresas e instituições foi o fio condutor do Encontro, que contou com o testemunho de diversos empresários com uma forte presença na atividade social do país. “A nossa preocupação não é apenas com o bem-estar dos clientes, mas também com os meios e recursos envolventes ao nosso empreendimento turístico”, salientou Carlos Leal, diretor geral do Pine Cliffs Resort, unidade hoteleira localizada em Albufeira, e que representa uma das maiores entidades empregadoras do concelho. “Defendemos uma política assente na sustentabilidade ambiental e na responsabilidade social, trabalhando em parceria com várias associações, instituições e com a comunidade local”, testemunhou o diretor hoteleiro, um dos oradores do primeiro painel do evento. Com igual intervenção no primeiro painel, a Diretora de Inovação Social da Fundação EDP, Margarida Pinto Correia, apresentou o conceito de “negócios sociais” e os principais constrangimentos e fatores de sucesso no desenvolvimento desta forma de atuação. Realçando que apesar do Algarve e o Alentejo serem as duas regiões do país que apresentam menos candidaturas a projetos de apoio social daquela instituição, a nível nacional, Portugal encontra-se na vanguarda europeia com iniciativas inovadoras de empreendedorismo social. Exemplo disso é o Instituto de Empreendedorismo Social – Social Business School, a primeira escola de negócios focada na Inovação e Empreendedorismo Social em Portugal. O IES foi representado no Encontro por Nuno Frazão, atual Coordenador do Laboratório de Inovação Social e Coordenador da Área de Desenvolvimento e Negócios do referido Instituto, que apresentou as áreas de intervenção Instituto que percorreu caminho dedicado à inovação social na criação de soluções de negócio sustentáveis, oferecendo um portefólio de formação, investigação e consultoria que dá resposta a empreendedores sociais, organizações sociais, setor público, empresas, fundações e universidades, de forma a inspirar, formar, apoiar e ligar organizações e pessoas, de todos os setores de uma economia convergente. Joaquim Caetano, Responsável da Área de Voluntariado Corporativo da Fundação Montepio, realçou as linhas base do investimento social com vista à sustentabilidade da intervenção, dando enfase à rede de parcerias, envolvimento dos beneficiários e à necessidade permanente de avaliação.
Durante o Encontro foram apresentados várias estratégias inovadoras desenvolvidas por instituições, pretendendo demonstrar que a sustentabilidade financeira encontra-se ligada ao desenvolvimento de atividades criativas. São exemplos a Marca Misericórdia, o projeto TASA, a companhia de dança “Dançando com a Diferença” e o Teatro “Crinabel”. O terceiro painel do encontro, moderado pelo Presidente da Fundação o Século Emanuel Martins, destacou a mais-valia da de intervenção da área empresarial-social como meio de apoio e complementaridade na atuação das instituições. O projeto As Marias da Fundação EDP, a Plataforma HereWeGo de turismo inclusivo e a Comfort Keepers, foram os casos de sucesso apresentados.
A introduzir o momento de reflexões, Manuel Lemos, presidente da União das Misericórdias Portuguesas, parceiro do Encontro, fez saber que o Quadro Comunitário de Apoio contempla um programa específico direcionado às instituições da Economia Social, que irá comparticipar uma verba superior a 2 milhões de euros. “Este é um instrumento de extrema importância para as nossas instituições nos próximos anos”, destacou. O presidente UMP alertou ainda para a importância do funcionamento em rede das instituições que prestam apoio social, a fim de garantirem a sustentabilidade futura das suas ações. Manuel Lemos defendeu ainda que, para a sustentabilidade de todos aqueles que têm um trabalho social, “é necessário que pensem também na distribuição de serviços, para evitar a saturação do mercado com muitos” a oferecer os mesmos produtos e serviços.
Em jeito de conclusão, Carlos Silva e Sousa fez saber que “este encontro revestiu-se de elevado interesse, contando com intervenções de grande qualidade e uma plateia com centenas de pessoas. Depois de um longo dia de debate e reflexão, penso que temos a solução diante de nós e encontramo-nos todos no mesmo barco, não excluindo ninguém: IPSS, Estado Central, autarquias, empresas e o próprio cidadão”, afirmou o autarca de Albufeira, para quem “o papel das autarquias na questão social é entendido, cada vez mais, como prioritário pela sua urgência e importância, já que estamos a falar de pessoas desfavorecidas.”. Carlos Silva e Sousa divulgou que o Município de Albufeira tem um conjunto de medidas de apoio à população mais carenciada, que vai desde as bolsas de estudo ao apoio ao arrendamento ou à teleassistência a idosos, para além das parcerias com as IPSS locais que atuam ao nível da alimentação, roupa, material escolar, transporte, entre muitas outras.
O painel de encerramento do evento contou também com a intervenção de Alexandra Rebelo, Subdiretora do Banco de Inovação Social e Ofélia Ramos, diretora do Centro Distrital da Segurança Social de Faro. “O grande desafio do terceiro setor é arranjar outras formas de financiamento para além dos fundos públicos, que garantam a sua sustentabilidade económica”, explicou Ofélia Ramos, adiantando que a Segurança Social financia mensalmente o terceiro setor com cerca de 4,5 milhões de euros no distrito de Faro, mas que “é fundamental que todas as entidades ligadas à Economia Social, cujo objetivo passe pela solidariedade e desenvolvimento integrado das comunidades, trabalhem em rede e em parceria entre público e privado, para que possam atingir os objetivos que os unem a todos.” Exemplo disso é o Salgados Grande Hotel, anfitrião do evento, que se assume como “uma empresa cujo único objetivo não se centra em gerar lucro, mas tem também uma preocupação social para com a comunidade”, referiu Mário Ferreira, administrador do grupo.
Na impossibilidade de estar presente por motivos de agenda política, o ministro da Solidariedade, Emprego e Segurança Social, pediu que fosse lido o seu discurso, onde transmitiu a intenção do Governo de construir uma rede de parceiros com o intuito de gerar postos de trabalho e ajudar quem mais precisa: “queremos construir um futuro onde quem se esforça é apoiado, onde o trabalho é reconhecido, onde os mais idosos, os que têm maiores dificuldades e os que não têm emprego são apoiados, mas sobretudo um futuro onde aqueles que estão socialmente excluídos, mas têm capacidade, são ajudados a regressar ao mercado de trabalho e estimulados a conseguir nova oportunidade”. Mota Soares admitiu que construir essa sociedade numa base sustentável implica sérias reformas, mas garantiu que as medidas que tem introduzido visam a sustentabilidade prioritária das instituições sociais. “Somos o Governo que mais contratualizou com as instituições sociais ao nível da rede de proteção social e malha solidária, estabelecendo um novo modelo de resposta em Portugal. Este Governo acredita que o Estado, juntamente com as instituições sociais, tem essa capacidade de resgatar o futuro para os portugueses. Um futuro melhor, mais sustentável e responsável”, assegurou.
O evento terminou com a peça de teatro solidária “A Cantora Careca”, pela companhia Crinabel, que teve lugar no Auditório Municipal de Albufeira e cuja bilheteira reverteu a favor da Santa Casa da Misericórdia de Albufeira e daquela companhia cénica.