Decorreu no passado dia 31 de Maio a conferência dedicada ao tema “(Des) Construindo o papel das Misericórdias: desconstruir mitos para construir o futuro”, que teve lugar no Auditório Municipal de Albufeira. Integrada nas comemorações do 520º aniversário da Misericórdia de Albufeira, o evento contou com a participação de representantes de Misericórdias e demais entidades cooperantes.
A iniciativa proporcionou excelentes intervenções, que conjugaram olhares e experiências díspares, ajudando os participantes a elucidarem-se acerca do panorama real das Santas Casas.
Patrícia Seromenho, Provedora da SCMA, abriu os trabalhos com uma mensagem de boas-vindas. “São 14 obras de Misericórdia que se renovam diariamente. Vamos falar do trabalho das Misericórdias ao longo do tempo. Gostaria de dizer-vos que a história desta Misericórdia entrelaça-se com a história de um concelho e da sua população. Os Albufeirenses não seriam os mesmos se a SCMA não estivesse cá para os ajudar. Da mesma forma, a Misericórdia também nada faria se não tivesse a comunidade do seu lado diariamente, em prol daqueles que mais precisam.”
Seguiu-se a intervenção de Cardoso Ferreira, titulada “O papel das Misericórdias: Ontem, Hoje e Amanhã”. “A primeira nota é naturalmente dar os parabéns a SCMA porque 520 anos é de facto um tempo notável e um tempo notável que configura uma das características mais interessantes das misericórdias portuguesas que é a sua capacidade de resistência ao longo dos tempos.” Foi com estas palavras que o representante do Secretariado Nacional e Coordenador do Secretariado Regional de Faro da União das Misericórdias Portuguesas deu início a sua intervenção, onde abordou a evolução das Misericórdias, relatando fatos da sua criação e até mesmo dos seus desdobramentos até aos dias de hoje. Diversas temáticas foram levadas ao público tais como o funcionamento dos Jogos Santas Casas, o papel das Santas Casas na economia social, a sustentabilidade das Misericórdias e o seu papel insubstituível num tempo que espelha o crescente envelhecimento da sociedade portuguesa.
A Mesa-Redonda, denominada de “Sustentabilidade e Inovação”, proporcionou a liberdade de expressão, a quatro oradores cujas funções são distintas, com o intuito de convergir testemunhos na expectativa de um melhor compromisso com o futuro.
O painel contou com a intervenção de Michael Batista, Provedor da Misericórdia de Penalva do Castelo, que deixou o testemunho de uma realidade distinta dos grandes polos urbanos do país. O Provedor explanou como tem enfrentado os constrangimentos ao longo dos tempos para que a instituição por ele dirigida mantenha dentro dos conformes o seu papel relevante junto da comunidade local. “Restruturamos e organizamos todos os serviços internos, com uma pinga de inovação. Ser inovador é aplicar uma técnica ou uma estratégia que permita obter resultados com eficácia e eficiência. Tratasse de assumir ou cumprir os objetivos de forma rentável, não só na parte financeira, mas também na parte humana. Esta é a estratégia de organização de recursos que nós implementamos desde o ano de 2013.”
Helena de Freitas, Professora Catedrática da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra, focou a sua intervenção nas assimetrias regionais e nas desigualdades sociais atuais. “A questão das assimetrias em Portugal coloca-se com muita propriedade e ela afeta genericamente toda a atividade económica do país, a atividade social, a atividade cultural, as dinâmicas do futuro de Portugal. Há uma grande transformação em Portugal, desde logo também demográfica e que é visível nas ultimas décadas e que se perspetiva que venha a continuar a ter reflexos em Portugal”. Enfocando o futuro, a Professora destacou que o combate às assimetrias passará pela definição de modelos com a sociedade civil e com a iniciativa privada, modelos de organização neste território que respondam em primeiro lugar as pessoas.
Jorge Botelho, Presidente da AMAL, destacou a relevância dos papéis que as Misericórdias assumem nas comunidades em que se inserem. “As misericórdias são parceiras das câmaras municipais, é esta realidade que deve estar combinada em nome do interesse das pessoas, tem que se encontrar soluções que respondam nos dias de hoje, aos problemas da litoralidade, da interioridade, dos custos, das respostas, das famílias e do seu défice estrutural de rendimentos disponíveis. Porque a competição que existe entre o setor social e as misericórdias e o setor privado faz a distinção. Eu não concebo hoje a sociedade que temos sem o papel das misericórdias e de todo o setor social.”
José Simões de Almeida, Advogado e Ex-secretário de Estado da Solidariedade e Segurança Social no XIV Governo Constitucional de Portugal, debruçou-se acerca dos maiores desafios para as Misericórdias Portuguesas no que concerne à relação com o Estado. “Devo dizer que o estado, quer seja o poder local, quer seja o poder central, quando pensa em substituir uma resposta que é apostada por instituições de solidariedade social, deve pensar muito bem antes de a substituir por respostas próprias porque pode estar a prejudicar a sustentabilidade destas instituições que são garantes do emprego local, que são garantes da justiça social e que são garantes da igualdade social.”
Refira-se que a Mesa Redonda foi moderada por Patrícia Seromenho. A Provedora admoestou que “a sugestão é, cada um de vós, na vossa área de intervenção, seja na parte do município, seja na parte docente, que a maior das responsabilidades que é nós educarmos e reeducarmos aqueles que serão o futuro de amanhã, trabalharmos, e isto cruzado aqui com outra questão, como é que as Misericórdias no vosso olhar podem construir este futuro de amanhã? É por construirmos soluções, uma nova legislação, que sabemos que ela está desajustada.”
O jornalista algarvio Neto Gomes igualmente moderou o painel e suscitando todos os ideais defendidos e debatidos, dirigiu-se à plateia. “Aqui sentados, nos sofás do debate, vejo esperança e futuro, porque acreditamos que este será um espaço de conforto, para os homens e mulheres enraizados nos ideais de fazer o bem, desde autarcas, segurança social, que são afinal duas importantíssimas esferas que rolam na grande engrenagem de amor pelos outros.”
Margarida Flores, Diretora do Centro Distrital da Segurança Social de Faro, marcou presença na sessão de encerramento. “Atendendo às novas realidades sociais e sendo devota das causas sociais, sublinho a grande atividade da Santa Casa no sentido de aceitar desafios que no terreno identificaram situações, combateram um estado de carência e se identificaram de forma pró-ativa mantendo a cooperação e articulação quer com a segurança social quer com os outros organismos do estado.”
Depois de uma tarde de debate e reflexão, José Carlos, Presidente da Camara Municipal de Albufeira, fez saber que o encontro revestiu-se de elevado interesse, contando com intervenções de grande qualidade. O autarca afirmou “qualquer um, dos municípios do Algarve, tem o intuito de expor numa relação de confiança, e de parceria pura, e prática, e objetiva com as Misericórdias. Estamos numa primeira linha do apoio à ação social, muito através das IPSS, em particular das Santas Casas da Misericórdia. A Câmara de Albufeira, não vai esquecer, a existência, e o trabalho e a dedicação de toda a equipa da Santa Casa da Misericórdia, quer a nível dos corpos sociais, quer a nível dos seus colaboradores e voluntários.